Coletivo para o Inferno é o tipo de texto que nos convida para um passeio e nos coloca em uma montanha-russa narrativa. São cinquenta páginas de um enredo elaborado para oferecer sinestesicamente ao leitor a experiência de dar uma volta no barco do Caronte (ou ônibus, conforme o caso). A trama nos apresenta um prólogo sobre uma personagem que só irá demarcar importância depois, em seguida nos apresenta à rotina do protagonista que a descreve de acordo com a sua percepção de fracasso.
O ato introdutório equilibrado e repetitivo, já que a personagem vive aquilo diariamente, é bruscamente quebrado pela entrada da personagem do prólogo, dando início a uma fantástica viagem de redenção, superação, justiça e emoção até as frases finais da obra.
Particularmente, o ponto que mais me chamou atenção no texto foi o ritmo escolhido pelo autor para contar a história. Os véus da verdade vão aos poucos caindo como uma dança lenta e persistente, alternando momentos de tensão com ausência de tensão sem despejar sobre o leitor a corrente de eventos de outro mundo (literalmente) que envolve o núcleo de personagens.
Em seguida, as histórias que são contadas no decorrer da narrativa em forma de confissão transporta o leitor para o coração sofrido (ou não) a ser julgado pela entidade, conectando-o pela descrição de ambiente que oferece o suficiente para permitir sinestesia (uma ferramenta muito importante e interessante quando se fala em textos).
Comento e recomendo esse livro tanto para quem gostaria de uma boa leitura quanto gostaria de ler um enredo pensado para provocar o leitor, guiando-o em sua trama.
Em nossas conversas sobre roteiro de jogos aqui no blog , falamos sobre a importância de pensar na apresentação e formação dessas rotas narrativas, e o ritmo do livro de Jonathan Barros exemplifica bem como isso pode ser feito. O autor escolheu um prólogo para iniciar o texto, o que, dentro de seu game, poderia se traduzir como uma introdução que não necessariamente se encerra no protagonista, mas entrega um contexto para apoiar todos os outros eventos que seguem, inclusive o clímax.
Quando pensarem no roteiro dos games, não pensem apenas nos fatos em si, mas em como apresentá-los para quem está jogando. O sabor da viagem tem que ser marcante.
O livro pode ser adquirido aqui
Vejo vocês na próxima parada!
C ya.
Comments